11 de abr. de 2008

Avenida Paulista


Fernanda Soares
A Avenida Paulista é o orgulho de todo paulistano que se preze, pelo menos é o que eles costumam afirmar em conversas (sejam elas de bar ou de msn mesmo) como é o caso das conversas que eu tenho com os paulistas amigos meus.
Ela tem a fama de não parar nunca, e sempre estar engarrafada. No passado foi moradia dos grandes senhores cafeeiros, com suas mansões em estilo eclético e longe dos centros mais movimentados da cidade. Algumas das famílias mais influentes do Brasil moraram na Paulista, e é provavelmente por isso, que hoje, ela continua sendo o grande centro gerador de riquezas de São Paulo e por conseqüência, do Brasil.
Estive na Paulista há alguns meses, mais precisamente no mês de janeiro de 2008 para encontrar amigos. Amigos que eu conheci na internet. Alguns desses amigos são moradores de Sampa mesmo, e como bons moradores locais, não sabiam como andar pela cidade. Optamos pelo mais fácil para não nos perdermos e fomos conhecer a Paulista a pé. Vocês podem dizer que andar 2,8 quilômetros não é muita coisa ou podem pensar que é. Cada um é um certo, vou deixar que você pense o que você quiser pensar.
Mas o certo é que para quem estava de salto plataforma (como eu e algumas das amigas) ou mesmo de tênis depois de algum tempo se cansaria e muito de andar, ainda mais na Paulista, onde não se tem muita coisa para ver em uma sexta-feira à tarde, quase noite já. Certo?
Errado!
Começamos lá na Consolação (onde estava o nosso hotel), e fomos brincando pelo caminho. Passamos em frente ao Masp, fizemos algumas fotos no jardim que fica embaixo do museu, e nem ao menos tentamos entrar, pois achávamos que já estava fechado (o detalhe é que o museu só fecha na segunda-feira, detalhe que só saberíamos bem depois).
A tarde estava muito agradável e alguns dos amigos e amigas que estavam ali, são mais que fãs dos Beatles, são verdadeiros seguidores eternos. Então, aproveitamos que o sinal ficou vermelho para os carros, e pronto, a capa do cd dos Beatles – talvez a mais famosa – Abbey Road, o disco número 12, estava registrada por nós. Quatro amigos atravessando a rua, em uma faixa de pedestres. Ou quase feita, já que o Vini resolveu olhar para a câmera. Mas relevamos, a alegria da Tainá (a mais betleamaníaca de todos) fez com que cantássemos – literalmente – a vitória de ter conseguido essa foto na Paulista.
Continuamos o nosso caminho em direção ao nada e ao tudo e encontramos um saxofonista, bem ao estilo “filmes de sessão da tarde” tocando Djavan. Ficamos ali ouvindo e ele atendia nossos pedidos um atrás do outro, desde o hino do Corinthians (pedido do Toni, um Corinthianista mais que roxo e então, namorado) até novamente Beatles. E para quem achou um fato estranho conseguirmos fazer a foto, não vai acreditar no que aconteceu quando o saxofonista tocou Yesterday. Mais uma vez eles, fizeram a Paulista parar. O silêncio foi total na Avenida. Os sinais estavam todos verdes, os carros estavam livres para irem e virem, e eles silenciaram. Naquele momento o mundo parou de girar, para testemunhar o bando de amigos loucos e eternamente unidos por aquele momento, que foi, mágico e eterno em nossos corações. Mas a tarde ainda não tinha acabado.
Continuamos o nosso caminho e encontramos um jardim, com letras espalhadas com as iniciais dos nomes de alguns de nós ou de nossos queridos amigos que não puderam estar ali conosco. Depois de um quase book com todo o alfabeto, arrastarmos a Tainá para continuarmos andando, vimos a ultima das mansões do século XIX, hoje uma lembrança tombada pelo patrimônio histórico. O percurso acabou em um shopping na avenida seguinte à Paulista.
Depois de horas ali na praça de alimentação nos divertindo e contando histórias resolvemos voltar para o hotel. O percurso tinha sido tão rápido que resolvemos voltar do mesmo jeito que tínhamos ido, caminhando.
Levamos aproximadamente duas horas e meia para percorrer toda a Paulista na ida, e o mesmo tempo para a volta. Que foi tão divertido quanto antes, com alguns acréscimos: turistas desavisados tirando fotos de monumentos que não tinham nada de monumentos, como a torre de rádio toda colorida – apelidada carinhosamente de Gay Tower por causa das cores –, paradas em frente as placas do metro para tirar fotos, simplesmente porque tinha o nome de Brigadeiro, e eu como boa chocólatra não poderia perder a oportunidade ou ser carregada no colo, enquanto me fingia de muito cansada para continuar andando.
Quer saber? O criador da Paulista devia ser algum tipo de mágico ou bruxo, que quando criou a Avenida lançou um feitiço sobre ela, onde verdadeiros e eternos amigos sentiriam que ela ficava menor e maior a cada passo. Menor por ser muito rápido o percurso e maior pelo fato das ótimas histórias que aconteciam a cada passo, e que algumas das melhores histórias, aquelas que merecem ser contadas aos netos aconteceriam ali. Eu só tenho que agradecer ao senhor Joaquim Efigênio de Lima, por ter criado essa maravilha paulista.

Vitória, 03 de abril de 2008.

Caro companheiro,

Tenho acompanhado o mais que posso sobre as suas atitudes e tomadas de decisão sobre o presente e o futuro do nosso país. Concordo que o mais que posso, não é muito, afinal são infinidades de coisas para se fazer durante o dia, e nem sempre ler e ver o jornal é uma das minhas prioridades. Mas, enfim, tenho me perguntado o porquê de com menos de quatro meses de diferença sua aceitação subiu tão rápido entre o povo. Principalmente entre aqueles que têm um maior poder aquisitivo.

Me pergunto, se isso aconteceu pela alta da bolsa e queda do dólar ou pela quantidade de investimentos que estão acontecendo nos diferentes campos de trabalho no Brasil – petróleo, maior número de empregos – mas, sabe, não me leve a mal, mas essas questões não me afetam tanto.

A seca no Nordeste continua seca. É, eu sei, você não tem poder de fazer chover. Mas ainda acho muito difícil um presidente ter aceitação de 73% da população brasileira. Se o Norte do Brasil ainda sofre com a degradação ambiental, o Nordeste com a seca, e agora a transposição do nosso querido Velho Chico, que gerou tanta controvérsia entre a população.

Agora me veio uma coisa na memória. Será que a aceitação se deve ao fato da mídia parar de anunciar as porcarias (com o perdão da expressão), que andam acontecendo ai na terra do João de Santo Cristo e que influenciam o nosso país como um todo? Porque me é impossível de crer que as coisas pararam de acontecer de uma hora para a outra. Em um instante CPI’s pipocam por todo lado, no momento seguinte elas desaparecem sem anunciar resultados positivos ou negativos.

E aí, seu nível de aceitação sobe feito um foguete.

Sabe, eu me filiei ao seu partido antes de todas as crises começarem. E apesar de sempre ter sonhado com um país onde as notícias fossem sempre boas, eu estou decepcionada hoje. Por mais motivos que posso colocar nesta carta, mas o principal, é que você parece querer esconder do povo as coisas ruins que acontecem por ai. Como um pai zeloso que não quer que os filhos saibam das dividas que a família enfrenta. E não permite que os filhos cresçam.

Tenho medo do futuro em que você não estará presente para conversar e mediar os problemas com os vizinhos ou as dividas dos seus antecessores.

Vou te deixar pensar por hoje.

Bons sonhos e vou tentar não ter pesadelos.

Fernanda Soares

O assassinato anunciado

Fernanda Soares

Uma criança comprou um refrigerante 600 ml. Abriu ali mesmo no meio da rua e jogou a tampinha por ali mesmo na rua, sem se preocupar que procurar por uma lixeira. O pai e a mãe, junto com a criança, nem perceberam o que ela havia feito. O carro estava estacionado em fila dupla e não poderiam demorar demais, além do mais, a criança estava atrasada para o inglês.

Assim que entraram no carro a chuva que o céu já prometia há tempos, começou, mas não durou muito, logo o sol abriu novamente, mas, o estrago já havia sido feito. A tampinha já estava cheia de água no cantinho da rua e um mosquito já tinha passado por ali e depositado seus ovos.

O tempo passou, os ovos eclodiram e milhares de mosquitos saíram dali. Aqueles mosquitinhos rajados de branco e preto e que costumam nos atacar nos fins de tarde, horários em que as crianças estão brincando com seus amiguinhos nas ruas, aproveitando que suas atividades diárias chegaram ao fim.

É nesse horário que a tarefa diária do mosquito começa... Picar o maior número possível de pessoas. Sem se importar com idade, cor ou classe social. As crianças são as vitimas mais fáceis e frágeis, e as menos cuidadosas também, afinal, é só um mosquito e repelente tem um cheiro enjoativo ou fará com que elas se tornem motivos de piadas entre os amiguinhos da rua.

Frágil também é o Sistema Único de Saúde – SUS, aonde a maioria da população brasileira é atendida. É por toda a fragilidade existente no sistema que crianças morrem todos os dias.

No Nordeste isso sempre ocorreu, crianças morrendo aos montes, mas por falta de comida e água. Mas o Nordeste é tão longe de nós. Para que denunciar essas questões aqui no Sudeste? Agora é noticia, porque são nossas crianças sulistas que estão morrendo.

E isso nos assusta e nos trás um sentimento de impotência e inferioridade perante os demais estados e regiões, afinal, aqui as crianças têm 100% de direito a saneamento básico, água encanada, luz elétrica, escola de qualidade, médicos, coleta de lixo e em alguns lugares a coleta já é seletiva.

Será que realmente todas as nossas crianças têm acesso a esses direitos delas e que são deveres dos nossos governantes e por que não dizer nosso também? Porque a responsabilidade é nossa. Somos nós que colocamos os governantes onde eles estão.

Porque até agora, a maioria das crianças que foram assassinadas por este mosquito estão em bairros economicamente mais baixos? Sempre me esqueço, a corda sempre poca no lado mais fraco da história.


Pecado, pecadinho, pecadão... Quem paga por eles?

Fernanda Soares

Ao longo da história do Mundo, sempre existiu aquelas pessoas que achavam que podiam mandar na vida alheia. Na Pré-História era quem sabia caçar melhor, depois veio os faraós, depois os grandes impérios gregos e romanos... Chegamos então a Idade Média, e com ela os senhores feudais e a Igreja Católica que nessa época se achava a “dona da bola”.

Além de achar que era a dona do brinquedo, achava também que era a dona da Europa. Até ai, até que não tinha tanto problema, ser dona de terras a perder de vista, pelo menos para nos, que não somos daquela época. Mas ser dona de um continente inteiro deixou essa senhora se sentindo a “Poderosa Chefona” da parada. Ter poder de vida e morte e além morte das pessoas que acreditavam piamente em tudo que se falava dentro e fora dos templos pelos sacerdotes. Nessa época era preciso que as indulgências fossem pagas e pronto, sua alma estava com um terreno comprado no céu, e mais, você podia comprar um terreno para quem mais da sua família você quisesse, contando que ela já tivesse abotoado o paletó de madeira.

Ter todo esse poder subiu à cabeça da gentil e antiga Senhora e ela achou que do jeito que estava não podia ficar. Pecava-se a vida toda, e no fim da vida pagava algo e pronto, estava salvo. A partir de então, somente alguns pecados seriam absolvidos pelos sacerdotes, os menores seriam facilmente perdoados depois do arrependimento e confissão – tacar pedra no gato que mia embaixo da sua janela até o sol nascer, depois de uma semana exaustiva esta entre estes – e outros seriam um pouco ou extremamente ruim que fossem cometidos pela população, tão ruins que o arrependimento e absolvição precisariam ser imediatos, ou era o “mármore do inferno” na certa.

Este último tipo de pecado ficou conhecido como pecados capitais ou mortais – se você assistiu a última novela das sete da Rede Globo, sabe do que eu estou falando – orgulho, inveja, ira, avareza, gula, luxúria e vaidade. Não necessariamente nesta ordem, mas nessa quantidade desde o século VI ou VII (a data não é muito precisa quanto a criação), mas no século XXI (exatamente onde estamos), o atual Papa, acha que é necessário uma atualização para acompanhar a globalização.

Os que eram sete, agora são treze.

Orgulho, inveja, ira, avareza, gula, luxúria, vaidade, modificações genéticas, poluir o meio ambiente, causar injustiça social, causar pobreza, tornar-se extremamente rico e usar e traficar drogas.

O pretexto que a Igreja usou para “criar” os “novos” pecados é que antes eles eram muito voltados só para a pessoa, o individuo cuidava só do próprio umbigo e o resto do mundo que fosse para onde quisesse. Não existia uma visão ampla do mundo e do eu como o outro. Com os recém agregados, o objetivo é fazer com que essa visão do mundo e para o próximo passe a acontecer.

Agora as perguntas que não querem calar são:

- Empresas de grande porte, como Aracruz Celulose, Vale e CST devem começar um trabalho de conscientização com seus funcionários para que o meio ambiente seja menos agredido ou só quem precisa se preocupar com esses pecados é o agricultor que tira da terra a subsistência familiar?

- Padres, bispos e cardeais vão deixar seus carros importados e cheios de acessórios comprados com o suado dinheiro do povo doado em dizimo e comprar carros populares com no máximo um ar-condicionado ou uma trava elétrica? Ou novamente a preocupação recai sobre o trabalhador que esperou 40, 50 anos para ter um mínimo de conforto na velhice?

E, cuidado, a senhora, dona de casa em bairro sem a mínima infra-estrutura, queimar o lixo para que sua casa não se torne berçário de ratos e baratas, agora é pecado mortal também, a senhora está agredindo o meio ambiente e sendo avarenta e vaidosa também. Afinal, não se oferece para queimar o lixo das vizinhas junto com o seu e o que são uns ratos e baratas a mais andando em cima do alimento de seus filhos.

A globalização me deixa confusa e deprimida.