Ao contrário dos antigos cadernos escritos por mocinhas e mocinhos, sempre escondidos dos pais, irmãos mais velhos e primos pentelhos, nesse, sinta-se a vontade para entrar e se fazer em casa!
11 de abr. de 2008
Avenida Paulista
Vitória, 03 de abril de 2008.
Caro companheiro,
Tenho acompanhado o mais que posso sobre as suas atitudes e tomadas de decisão sobre o presente e o futuro do nosso país. Concordo que o mais que posso, não é muito, afinal são infinidades de coisas para se fazer durante o dia, e nem sempre ler e ver o jornal é uma das minhas prioridades. Mas, enfim, tenho me perguntado o porquê de com menos de quatro meses de diferença sua aceitação subiu tão rápido entre o povo. Principalmente entre aqueles que têm um maior poder aquisitivo.
Me pergunto, se isso aconteceu pela alta da bolsa e queda do dólar ou pela quantidade de investimentos que estão acontecendo nos diferentes campos de trabalho no Brasil – petróleo, maior número de empregos – mas, sabe, não me leve a mal, mas essas questões não me afetam tanto.
A seca no Nordeste continua seca. É, eu sei, você não tem poder de fazer chover. Mas ainda acho muito difícil um presidente ter aceitação de 73% da população brasileira. Se o Norte do Brasil ainda sofre com a degradação ambiental, o Nordeste com a seca, e agora a transposição do nosso querido Velho Chico, que gerou tanta controvérsia entre a população.
Agora me veio uma coisa na memória. Será que a aceitação se deve ao fato da mídia parar de anunciar as porcarias (com o perdão da expressão), que andam acontecendo ai na terra do João de Santo Cristo e que influenciam o nosso país como um todo? Porque me é impossível de crer que as coisas pararam de acontecer de uma hora para a outra. Em um instante CPI’s pipocam por todo lado, no momento seguinte elas desaparecem sem anunciar resultados positivos ou negativos.
E aí, seu nível de aceitação sobe feito um foguete.
Sabe, eu me filiei ao seu partido antes de todas as crises começarem. E apesar de sempre ter sonhado com um país onde as notícias fossem sempre boas, eu estou decepcionada hoje. Por mais motivos que posso colocar nesta carta, mas o principal, é que você parece querer esconder do povo as coisas ruins que acontecem por ai. Como um pai zeloso que não quer que os filhos saibam das dividas que a família enfrenta. E não permite que os filhos cresçam.
Tenho medo do futuro em que você não estará presente para conversar e mediar os problemas com os vizinhos ou as dividas dos seus antecessores.
Vou te deixar pensar por hoje.
Bons sonhos e vou tentar não ter pesadelos.
Fernanda Soares
O assassinato anunciado
Fernanda Soares
Uma criança comprou um refrigerante 600 ml. Abriu ali mesmo no meio da rua e jogou a tampinha por ali mesmo na rua, sem se preocupar que procurar por uma lixeira. O pai e a mãe, junto com a criança, nem perceberam o que ela havia feito. O carro estava estacionado em fila dupla e não poderiam demorar demais, além do mais, a criança estava atrasada para o inglês.
Assim que entraram no carro a chuva que o céu já prometia há tempos, começou, mas não durou muito, logo o sol abriu novamente, mas, o estrago já havia sido feito. A tampinha já estava cheia de água no cantinho da rua e um mosquito já tinha passado por ali e depositado seus ovos.
O tempo passou, os ovos eclodiram e milhares de mosquitos saíram dali. Aqueles mosquitinhos rajados de branco e preto e que costumam nos atacar nos fins de tarde, horários em que as crianças estão brincando com seus amiguinhos nas ruas, aproveitando que suas atividades diárias chegaram ao fim.
É nesse horário que a tarefa diária do mosquito começa... Picar o maior número possível de pessoas. Sem se importar com idade, cor ou classe social. As crianças são as vitimas mais fáceis e frágeis, e as menos cuidadosas também, afinal, é só um mosquito e repelente tem um cheiro enjoativo ou fará com que elas se tornem motivos de piadas entre os amiguinhos da rua.
Frágil também é o Sistema Único de Saúde – SUS, aonde a maioria da população brasileira é atendida. É por toda a fragilidade existente no sistema que crianças morrem todos os dias.
No Nordeste isso sempre ocorreu, crianças morrendo aos montes, mas por falta de comida e água. Mas o Nordeste é tão longe de nós. Para que denunciar essas questões aqui no Sudeste? Agora é noticia, porque são nossas crianças sulistas que estão morrendo.
E isso nos assusta e nos trás um sentimento de impotência e inferioridade perante os demais estados e regiões, afinal, aqui as crianças têm 100% de direito a saneamento básico, água encanada, luz elétrica, escola de qualidade, médicos, coleta de lixo e em alguns lugares a coleta já é seletiva.
Será que realmente todas as nossas crianças têm acesso a esses direitos delas e que são deveres dos nossos governantes e por que não dizer nosso também? Porque a responsabilidade é nossa. Somos nós que colocamos os governantes onde eles estão.
Porque até agora, a maioria das crianças que foram assassinadas por este mosquito estão em bairros economicamente mais baixos? Sempre me esqueço, a corda sempre poca no lado mais fraco da história.
Pecado, pecadinho, pecadão... Quem paga por eles?
Fernanda Soares
Ao longo da história do Mundo, sempre existiu aquelas pessoas que achavam que podiam mandar na vida alheia. Na Pré-História era quem sabia caçar melhor, depois veio os faraós, depois os grandes impérios gregos e romanos... Chegamos então a Idade Média, e com ela os senhores feudais e a Igreja Católica que nessa época se achava a “dona da bola”.
Além de achar que era a dona do brinquedo, achava também que era a dona da Europa. Até ai, até que não tinha tanto problema, ser dona de terras a perder de vista, pelo menos para nos, que não somos daquela época. Mas ser dona de um continente inteiro deixou essa senhora se sentindo a “Poderosa Chefona” da parada. Ter poder de vida e morte e além morte das pessoas que acreditavam piamente em tudo que se falava dentro e fora dos templos pelos sacerdotes. Nessa época era preciso que as indulgências fossem pagas e pronto, sua alma estava com um terreno comprado no céu, e mais, você podia comprar um terreno para quem mais da sua família você quisesse, contando que ela já tivesse abotoado o paletó de madeira.
Ter todo esse poder subiu à cabeça da gentil e antiga Senhora e ela achou que do jeito que estava não podia ficar. Pecava-se a vida toda, e no fim da vida pagava algo e pronto, estava salvo. A partir de então, somente alguns pecados seriam absolvidos pelos sacerdotes, os menores seriam facilmente perdoados depois do arrependimento e confissão – tacar pedra no gato que mia embaixo da sua janela até o sol nascer, depois de uma semana exaustiva esta entre estes – e outros seriam um pouco ou extremamente ruim que fossem cometidos pela população, tão ruins que o arrependimento e absolvição precisariam ser imediatos, ou era o “mármore do inferno” na certa.
Este último tipo de pecado ficou conhecido como pecados capitais ou mortais – se você assistiu a última novela das sete da Rede Globo, sabe do que eu estou falando – orgulho, inveja, ira, avareza, gula, luxúria e vaidade. Não necessariamente nesta ordem, mas nessa quantidade desde o século VI ou VII (a data não é muito precisa quanto a criação), mas no século XXI (exatamente onde estamos), o atual Papa, acha que é necessário uma atualização para acompanhar a globalização.
Os que eram sete, agora são treze.
Orgulho, inveja, ira, avareza, gula, luxúria, vaidade, modificações genéticas, poluir o meio ambiente, causar injustiça social, causar pobreza, tornar-se extremamente rico e usar e traficar drogas.
O pretexto que a Igreja usou para “criar” os “novos” pecados é que antes eles eram muito voltados só para a pessoa, o individuo cuidava só do próprio umbigo e o resto do mundo que fosse para onde quisesse. Não existia uma visão ampla do mundo e do eu como o outro. Com os recém agregados, o objetivo é fazer com que essa visão do mundo e para o próximo passe a acontecer.
Agora as perguntas que não querem calar são:
- Empresas de grande porte, como Aracruz Celulose, Vale e CST devem começar um trabalho de conscientização com seus funcionários para que o meio ambiente seja menos agredido ou só quem precisa se preocupar com esses pecados é o agricultor que tira da terra a subsistência familiar?
- Padres, bispos e cardeais vão deixar seus carros importados e cheios de acessórios comprados com o suado dinheiro do povo doado em dizimo e comprar carros populares com no máximo um ar-condicionado ou uma trava elétrica? Ou novamente a preocupação recai sobre o trabalhador que esperou 40, 50 anos para ter um mínimo de conforto na velhice?
E, cuidado, a senhora, dona de casa em bairro sem a mínima infra-estrutura, queimar o lixo para que sua casa não se torne berçário de ratos e baratas, agora é pecado mortal também, a senhora está agredindo o meio ambiente e sendo avarenta e vaidosa também. Afinal, não se oferece para queimar o lixo das vizinhas junto com o seu e o que são uns ratos e baratas a mais andando em cima do alimento de seus filhos.