11 de abr. de 2008

O assassinato anunciado

Fernanda Soares

Uma criança comprou um refrigerante 600 ml. Abriu ali mesmo no meio da rua e jogou a tampinha por ali mesmo na rua, sem se preocupar que procurar por uma lixeira. O pai e a mãe, junto com a criança, nem perceberam o que ela havia feito. O carro estava estacionado em fila dupla e não poderiam demorar demais, além do mais, a criança estava atrasada para o inglês.

Assim que entraram no carro a chuva que o céu já prometia há tempos, começou, mas não durou muito, logo o sol abriu novamente, mas, o estrago já havia sido feito. A tampinha já estava cheia de água no cantinho da rua e um mosquito já tinha passado por ali e depositado seus ovos.

O tempo passou, os ovos eclodiram e milhares de mosquitos saíram dali. Aqueles mosquitinhos rajados de branco e preto e que costumam nos atacar nos fins de tarde, horários em que as crianças estão brincando com seus amiguinhos nas ruas, aproveitando que suas atividades diárias chegaram ao fim.

É nesse horário que a tarefa diária do mosquito começa... Picar o maior número possível de pessoas. Sem se importar com idade, cor ou classe social. As crianças são as vitimas mais fáceis e frágeis, e as menos cuidadosas também, afinal, é só um mosquito e repelente tem um cheiro enjoativo ou fará com que elas se tornem motivos de piadas entre os amiguinhos da rua.

Frágil também é o Sistema Único de Saúde – SUS, aonde a maioria da população brasileira é atendida. É por toda a fragilidade existente no sistema que crianças morrem todos os dias.

No Nordeste isso sempre ocorreu, crianças morrendo aos montes, mas por falta de comida e água. Mas o Nordeste é tão longe de nós. Para que denunciar essas questões aqui no Sudeste? Agora é noticia, porque são nossas crianças sulistas que estão morrendo.

E isso nos assusta e nos trás um sentimento de impotência e inferioridade perante os demais estados e regiões, afinal, aqui as crianças têm 100% de direito a saneamento básico, água encanada, luz elétrica, escola de qualidade, médicos, coleta de lixo e em alguns lugares a coleta já é seletiva.

Será que realmente todas as nossas crianças têm acesso a esses direitos delas e que são deveres dos nossos governantes e por que não dizer nosso também? Porque a responsabilidade é nossa. Somos nós que colocamos os governantes onde eles estão.

Porque até agora, a maioria das crianças que foram assassinadas por este mosquito estão em bairros economicamente mais baixos? Sempre me esqueço, a corda sempre poca no lado mais fraco da história.


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